O Escritor Ryoki Inoue
José Carlos Neves

Registrado pelo Guinness como mais prolífico escritor do mundo, Ryoki Inoue, ou melhor, o “doutor Inoue”, pois é graduado em Medicina, já “nasceu com os genes da Literatura”,como ele próprio admite.
Sua mãe era docente de português, francês, grego e latim,além de literatura na Faculdade de Filosofia da USP. O pai,igualmente médico, tinha como seu maior prazer a leitura.

No entanto e, curiosamente, Inoue só veio a se dedicar profissionalmente a escrever, aos quarenta anos de idade.

Ele revela que quando considerou “paga a sua dívida para com a sociedade” – uma vez que se graduou por universidade pública, a USP - , e após 17 anos clinicando e operando,resolveu abandonar tudo em prol das letras.
Não se decepcionou com a Medicina, mas constatou “na pele”a praticamente intransponível distância entre o que aprendeu na faculdade e o que se pode realmente aplicar no exercício profissional.

Influenciado confessada e ecleticamente por clássicos e contemporâneos tupiniquins, como Machado, Menotti, Lobato, Cassiano Ricardo, Fernando Sabino, Ruben Braga, João Ubaldo Ribeiro e Otto Lara Rezende, além dos bestselistas Higgins, Ken Follet, Forsyth, Robbins, Sheldon, Konsalik... Ryoki também se submeteu à esdrúxula exigência dos editores em escrever sob um pseudônimo “estrangeiro” ou, no mínimo, exótico.

Assim foi que, sob a alcunha de quase meia centena de nomes,produziu mais de mil bolsilivros para diversas editoras do ramo, em todos os gêneros praticamente, do faroeste à ficção científica, passando por guerra, espionagem, românticos,entre outros, além de ter mlitado também como ghost-writer para outros autores. Curiosamente, só veio a saber por terceiros, da sua inclusão no Guinness, imediatamente “confirmada” pelo enxame de repórteres a lhe procurar.

Conosco, Ryoki Inoue:

-Sr. Inoue, a inevitável “ficha”: idade, estado civil, onde nasceu, cresceu e vive atualmente ?
Estou com 57 anos de idade, sou casado com a também escritora Nicole (Bartel) Kirsteller, nasci em Campos do Jordão, mas fui registrado em Sampa – naquela época ainda havia uma discriminação muito grande com relação a quem nascia em CJ, uma vez que era “terra de tuberculosos” – cresci em São Paulo, mas sempre com um pé bem afundado na roça e hoje vivo em Gonçalves (MG). Estava morando em Campos do Jordão, mas tive um problema de pressão arterial elevada e a altitude de CJ não é muito recomendável para hipertensos. Principalmente para aqueles que, como eu, não querem saber de fazer dieta.

-O que o atraiu inicial e especificamente pela Literatura mais popular, digamos assim? Algum autor e/ou obra em especial?
Gosto desse gênero de literatura. Não quero dizer que desgoste dos clássicos e dos grandes escritores. Acontece que eu gosto de ler e relaxar – ou de ler para relaxar – e imagino que muitos leitores também pensem da mesma maneira. Então a idéia era produzir romances – novelas – que façam o leitor “viajar” pelo livro, sem a necessidade de ficar analisando o que está escrito e muito menos ficar tentando entender o que eu quis dizer nas entrelinhas. Meus livros procuram agradar o leitor comum – e procura, ao mesmo tempo, não desagradar o leitor erudito. Por isso, a linguagemé simples, a leitura é rápida e a intenção é prender o leitor do começo ao fim, praticamente impedindo-o de parar de ler.

-Obviamente que o sr. lê muito para armazenar e explorar tantas informações em tantos gêneros da cultura popular. Mas na prática, como se dá o seu processo criativo? De onde tira suas idéias? Faz anotações, por exemplo, ao escrever sobre espionagem, seus métodos de ação, técnicas de interrogatório e persuação?
Em 1995 escrevi, apedido de um grupo de jornalistas amigos, uma espécie de manual de criação literária. Chama-se “O Caminho das Pedras” e foi publicado pela Editora Summus. As respostas às perguntas acima estão todas lá. Mas, apenas para que não digam que eu não quis responder, o meu processo criativo é resultado de muito suor e treinamento. As idéias – que posteriormente vão ajudar na criação de um texto, são tiradas, em sua maioria, das coisas do dia-a-dia. Montei um banco de informações ao qual recorro quando estou escrevendo.
Nele existem dados sobre grandes espiões, sobre conflitos políticos, guerras, espionagem industrial e uma infinidade de outros assuntos, inclusive informações sobre técnicas de indução em inteligência competitiva, técnicas de interrogatório, etc. São mais de cem CD’s cheios de informações.

-Neste gênero, inclusive um dos meus preferidos – depois da Ficção Científica – o quê acha da ficção de John Le Carre e Grahan Greene? Já leu algum romance de espionagem mais “realista” de que os clássicos destes autores? (O Espião que saiu do frio, O terceiro homem, Fator Humano...)
Concordo com você. Mas não se esqueça dos mais populares como Richard Prather (Shell Scott), e dos grandes “bestselleristas” como por exemplo Jack Higgins.

-Já leu algum romance nacional realista no gênero?
Não sei se é possível dizer que seja realista, mas Ruben Fonseca é muito bom, melhor que muitos estrangeiros.

-Pergunto porque, no passado chegava a compreender – como voraz leitor adolescente – as razões de a editora Monterrey, por exemplo, publicar livros de espionagem como ZZ7, 77Z, K.O. Durban etc, com autores que assinavam Lou Corrigan e outros nomes. Na verdade era o nosso querido - e ouso classificar, tão profícuo quanto o sr. – Elias do Soveral, ou outros como Rubens Ferreira Luchetti... E os faroeste de Marcial Lafuente Estefania? Quem iria “acreditar” numa espionagem que envolva as mirabolantes ações da CIA e KGB, se o autor se chamasse João Pereira, ou os protagonistas atendessem por sobrenomes Silva, Souza... um western se passando nas pradarias e desertos californianos, mississipianos, cujo cowboy se chamasse Paulo Ferreira? Na FC então, nem se fala...Não conseguia conceber uma nave espacial batizada “Pombo-Correio”, “Gavião-Rei”... Precisamos depois da chamada “2ª Geração de Escritores de FC” – após a “Geração GRD”, dos anos 60 – capitaneada pelo carioca Jorge Luiz Calife, para começar a nos libertar desde colonialismo ridículo. Mas, voltando à nossa questão: li uma vez um conto bem longo,não me lembro agora se em “Domingo Negro”, justamente do ótimo Ruben Fonseca, em que pela primeira vez uma ficção de “espionagem e assassinos profissionais”tupiniquim conseguiu o feito de “suspender a incredulidade”( o que os americanos chamam de “suspension of desbelief”) característica-mor, sine qua non, de qualquer ficção, seja em que veículo for. Sei que o conto dava a entender ser o protagonista um ex-agente do SNI, ou algo que o valha. Em nível “mais fácil”, digamos assim, o do humor satírico, também o saudoso Dias Gomes igualmente nos convenceu com o seu “Araponga” – tanto que o termo “caiu na boca do povo”.
Concordas com tudo isto? Já escreveu romances ou contos verdadeiramente “nacionais” neste gênero tão promissor, tão prenhe de possibilidades de se explorar as diversas facetas da personalidade humana, os conflitos entre consciência e éticas pessoal e profissional?
Um de meus últimos romances policiais, “Fuga”, pode ser classificado dentro desse gênero. Um outro, escrito em seis horas para ganhar um desafio proposto pelo Wall Street Journal, em 1996, está mais para o gênero cômico-satírico.

-E, ainda a propósito, sabe do “paradeiro” do mencionado Elias do Soveral? – há muito ele está em minha lista de “Procurados”.
Infelizmente, não.

-A respeito de estórias (ou deveria dizer “histórias”) de guerra, qual o romance ou conto que já leu que acha que realmente nos transmite o que se passa na mente de um soldado em plena batalha e a posterior degradação de personalidade entre outros “efeitos colaterais”?
Nem lembro mais de quantos romances de guerra eu escrevi. Mas é fácil,já por essa minha afirmação, imaginar quantos livros do gênero eu precisei ler. Creio que um dos melhores foi “Aquela Rua em Paris” de Elliot Paul, um correspondente de guerra que viveu em Paris durante a ocupação alemã.

-Vê também algo “de bom” que pode resultar de uma experiência desta – como é o caso dos “seus antepassados samurais” com seu bushidô, a guerra como arte, o matar como técnica e o enfrentamento mortal como aperfeiçoamento do espírito?
Acho que esse tempo já passou. Podemos continuar “samurais” mas ao invés do “katana”, hoje utilizamos o computador. E aperfeiçoamento espiritual consegue-se cultivando o conhecimento interno e externo. Escrevi, como “ghost-writer”, o livro “Muito Além da Beleza”, para Janine e Jacques Goossens – do Jacques Janine – e nele falo um pouco sobre esse tema.

-Como ficcionista o sr. não acha que a nossa própria História é riquíssima de episódios que propiciariam romances fantásticos, seriados e filmes muito melhores que os enlatados, uma vez que tratando de nossas próprias raízes, mazelas e deslumbramentos? Sei que li um livro há alguns anos de um autor gaúcho que mergulhou em pesquisa para escrever sobre os navios negreiros, que me ensinou, me enlevou, me convenceu muito mais de que todos os chamados “livros didáticos” das FTDs da vida... Se, sustentado por uma política governamental de incentivos, não teríamos aí um rico filão para os nossos sofridos ficcionistas?
Sem a menor sombra de dúvida. A Globo tem desenvolvido um excelente trabalho com as novelas épicas e as minisséries. É pena que exista a necessidade de contentar o IBOPE... Um grande problema que uma política SÉRIA de incentivos fiscais teria de enfrentar é a chusma de pseudo-intelectuais que insistem em discorrer única e exclusivamente sobre o lado doentio da nossa sociedade. O Brasil é muito mais que as favelas, que o cangaço, a seca, a desgraça. Aqui também existe riqueza, seja ela material, espiritual ou moral. Por outro lado, o Brasil não é apenas o nordeste e a história do Brasil não se resume ao período dito de “ditadura militar” de 64 a 85.

-Como apreciador da Ficção Científica – e dotado de tão fértil imaginação - como o sr. acha que seria realmente um alienígena? Tanto física, como (e principalmente) “psicologicamente”?
Há um engano, aí. Não sou apreciador de FC, embora tenha publicado oito livros desse gênero. Não acredito em alienígenas, mas imagino que eles sejam como nós, apenas adaptados fisicamente para as condições de seus planetas de origem. E acho incrível que se imagine um alienígena sempre como uma entidade superior ao homem. O fato de ter conseguido chegar até aqui pode, no máximo, denunciar um avanço tecnólico maior.

-Neste gênero, qual a sua obra preferida? E autor?
Li alguma coisa – e gostei, dentro das minhas próprias limitações – do Isaac Asimov.

-Sobre seus escritos, qual foi a sua primeira obra ou conto publicado e onde? Alguma repercussão?
Foi “Os Colts de McLee”, publicado em junho de 1986 pela Monterrey. Vendeu quinze mil exemplares.

-O que tem feito atualmente e quais seus novos projetos?
Estou trabalhando num romance histórico para a Editora Globo versando sobre o centenário da colonização japonesa no Brasil – 1908-2008.

-O sr. já escreveu roteiros para TV, cinema e teatro? É lucrativo? Qual o mais lucrativo do trio? Mais do que a Literatura?
Já. É incomparavelmente mais lucrativo do que a literatura – livros.

-Já teve alguma obra sua adaptada para TV, cinema, teatro ou mesmo Histórias em Quadrinhos?
Dois livros meus foram adaptados para o cinema nos EUA.

-A boa FC transpira um senso de absurdo mas consegue simultaneamente falar de seres e civilizações extraterrestres com eficiência, ou seja, o “suspender a incredulidade”já mencionado. Mas por incrível que pareça ( e olha que eu leio bastante), ainda não me deparei com uma FC que fosse suficientemente “realista” ao tratar de um contato de terceiro grau. E o sr.?
Também não. Talvez seja justamente por isso que não aprecio muito o gênero.

-Quais foram os eventos mais importantes que já ocorreram em sua vida?
Tenho uma filosofia de vida que me leva a considerar como importantes todos os acontecimentos que implicam meu desenvolvimento pessoal. Por isso, é difícil dizer o que foi mais ou menos importante para mim.

-E atualmente, o que lhe é realmente imprescindível, seminal?
Viver dignamente.

- Acha que a nossa Literatura de gênero tem evoluído? Quais autores - tanto de ficção quanto de fato, ensaístas, críticos, etc - o sr. considera dignos de nota?
Há uma infinidade de autores que considero como peças fundamentais na máquina cultural brasileira. Enumerá-los seria muito longo.

-Qual o rumo você vê a literatura tomando na nesta primeira década do século XXI?
Não sei. Imagino que deverá haver uma tendência justamente para a chamada literatura de lazer. As pessoas certamente precisarão cada vez mais de formas de relaxamento e a leitura é uma delas. Obviamente, isso não quer dizer que a literatura erudita venha a perder sua força e seu poder. Na verdade, ela é a base, o alicerce de todas as outras, inclusive a de lazer.

-Acha que o terrorismo – e o conseqüente cada vez mais orweliano mundo que vivemos - influenciará de forma mais marcante a Literatura nestes conturbados tempos?
Acho que qualquer evento influencia a literatura. E acho que isso acontece simplesmente porque o escritor é humano e necessita de um estímulo externo para poder criar. Os autores que escrevem unicamente por estímulos intrínsecos, acabam por produzir obras altamente subjetivas, a imensa maioria muito longe da compreensão dos mortais comuns.

-O sr. sabe que neste site, muita coisa praticamente gira em torno do cultuado autor e roteirista inglês Alan Moore. Que ele foi o criador da obra From Hell, para os Quadrinhos, depois desperdiçada por Hollywood. E que ele,” para vencer a crise existencial dos 40 anos”, resolveu se tornar um mago. Estudou muito Aleister Crowley, Austin Osman Spare, participou de experiências e acontecimentos no mínimo “fora- do-script”, como ele gosta de descreve-los. Você acredita na Magia, na Cabala e outros desdobramentos, ou tenta também - como o James Randi tupiniquim, Padre Oscar Quevedo - "explicar tudo à luz da Parapsicologia" ?
Sou um espiritualista convicto. Acho que isso responde à sua pergunta. Tenho certeza que há muito mais coisas entre o Céu e a Terra do que consegue explicar nossa vã filosofia...

-Leu o livro de estréia no mainstream de Alan Moore, “A Voz do Fogo” (Conrad, 2002) e o que achou?
Não li esse livro.

-O sr. também lê – e aprecia – Histórias em Quadrinhos?
Em matéria de quadrinhos até o final da década de 80, acho que você pode me perguntar o que quiser... Os quadrinhos modernos, hiper-realistass e de realismo fantástico, não me agradam.

- Tendo uma formação eclética, se podemos definir assim, o que o sr. pensa da Magia?
Escrevi vários livros sobre temas “mágicos”. Dentre eles, destaco “O Nome não Importa”, “Herança Maldita” e “Do Mago ao Louco”, este último, um romance que se passa dentro de um baralho de Tarô. Acredito na magia. Se não acreditasse, como poderia ser um ficcionista? Não é uma mágica transportar-nos, ao escrever, para as dimensões mais fantásticas da mente, do tempo e da própria percepção?

-Grande! Qual é a sua concepção do Tempo? A 4ª dimensão espacial de Einstein ou algo diverso ou “a mais”?
Vamos escrever um tratado sobre esse tema... Acho que o Tempo, para nós escritores, simplesmente não existe, uma vez que podemos invadi-lo e desrespeitá-lo quando queremos.

-O físico britânico Stephen Hawking considera o tempo como um sólido, onde tudo esta´se passando simultaneamente, portanto, se pudéssemos “se examinados” por um ser “fora do tempo”, ele nos veria como uma gigantesca centopéia, com milhares de pernas e braços e cabeças, se esticando desde de um bebe ate´ um velhinho, por todos os lugares – e tempos – por onde já passamos – mais ou menos como Kubrick tentou visualizar no antológico final de seu “2001”. Como o sr. imagina um ser ou objeto (como o Tesserato) da Quarta Dimensão? (se pudesse aparecer a nós, pobres materializações tridimensionais que somos?)
Nem imagino...

-O sr. acha que nossa incapacidade de “enxergar dimensões mais elevadas”seria um problema relacionado unicamente a nossa condição humana ou também envolveria algum aspecto espiritual – na falta de um termo mais “neutro”?
Nós conseguimos usar apenas um pequeno percentual de nossa capacidade cerebral. Quando conseguirmos aumentar esse percentual, certamente conseguiremos enxergar dimensões outras que não a tríade de Maxwell.

-O sr. acha que as nossas limitações cognitivas atualmente são tecnológicas, filosóficas ou epistemológicas?
São simplesmente humanas.

-Já leu as obras do matemático-filósofo soviético P.D. Ouspenski, do qual sou estudioso. Qual o seu entendimento para as teorias dele sobre o Tempo e a 4ª Dimensão – ver final do meu artigo Holismo e Caos em Big Numbers – em suas obras – ao meu ver – mais expressivas, Tertium Organum e Um Novo Modelo de Universo (Editora Pensamento)?
Isso é muito para a minha cabecinha...

-O que acha da imberbe Teoria do Caos, com seus Fractais e o popular "efeito borboleta"?
Prometo que vou estudar essa teoria e, depois, conversaremos a respeito.

-Como acha que esta teoria pode ser aproveitada por exemplo em algum enredo literário? (filmes como Magnólia, 21 gramas, Pi, o próprio Cidade de Deus, têm feito uso da teoria dos fractais, por exemplo, das pequenas alterações nas condições iniciais de m sistema dado, causando grandes, às vezes catastróficas, mas sobretudo, imprevisíveis, alterações nas condições finais, premissa-mor da teoria do caos)
Nunca pensei em utilizar qualquer teoria desse gênero para escrever meus livros. Creio que ficaria louco se o tentasse.
E acho que meus livros passam bem pelo teste de público sem tudo isso, sendo simplesmente uma leitura para o lazer.

-Acha que as chamadas artes populares e de entretenimento, como o Cinema e os Quadrinhos, têm também a capacidade de, através de seu experimentalismo formal, metalinguagem e outros recursos estilísticos, mas sobretudo de conteúdo humano que realmente nos enleve, nos atingir em cheio como as consagradas obras literárias? Algum exemplo?
Não tenho a menor dúvida. E acho que o povo, em si, a grande massa, não está interessada em nomenclaturas desse tipo. Eles querem – e têm razão em querer – obras que lhes traga alguma coisa, nem que seja simplesmente entretenimento. Nós, escritores que pretendemos vender o que escrevemos, temos de pensar na média de leitores e não num segmento específico, especializado e altamente intelectualizado da população.
Estamos vivendo no Brasil, onde mais de setenta e cinco por cento da população mal entende o que lê!

-O que faz o estilo? A capacidade de engendrar metáforas eficientes ou o uso quase mágico da palavra?
O uso natural da capacidade de se fazer entender sem complicações. Ou o contrário, principalmente no caso dos pseudo-intelectuais ou no caso daqueles que fazem absoluta questão de exibir conhecimentos.

-O que o sr. acha que dificulta para o escritor brasileiro sobreviver de sua arte? Falta de mercado?
Muitos fatores. O primeiro deles é o descaso da maioria dos editores, que preferem investir num autor estrangeiro a apostar num brasileiro. Depois, é a mania dos escritores brasileiros de quererem ser complicados demais. Como já disse, vivemos no Brasil e não na França ou na Alemanha. Temos de escrever para leitores brasileiros. É preciso lembrar que ainda estamos engatinhando no progresso cultural.

-Dostoyevski escreveu que na ficção, a consciência das personagens devem interagir e se debater até somente com as consciências das outras personagens, ficando o autor totalmente “de fora”. Como pensa que um conto ou romance deve ser, formalmente falando, para atingir esse objetivo?
Quando começamos a pôr regras controladoras da criação, estamos limitando as possibilidades de desenvolvimento da narrativa. O autor, querendo os teóricos ou não, faz parte integrante de cada personagem, ou seja, toda e qualquer personagem tem um pouco da personalidade de quem a criou, ou seja, do autor. Portanto, é impossível que este “fique de fora” por completo .

-O sr. acha que a “sede” do nosso “espírito” – ou essência, ou anima, o nome que se dê - se encontra na mente? Ou tudo não passa de um aperfeiçoamento fantástico de uma verdadeira “maquina orgânica” com seus ilimitados neurônios e suas ligações sinápticas?
Se não ficar na mente, fica em que lugar? É bem verdade que em alguns casos, dá até para pensar que fique no intestino grosso...

-Como o sr. imagina a Informática e a tecnologia digital em geral, daqui a dez anos?
Desenvolvidas em progressão geométrica relativamente aos últimos dez anos.

-Qual seria o “elo perdido” que realmente colocaria a pesquisa da Inteligência Artificial vis-a-vis com as da Ficção Cientifica?
A própria mente humana.

-E as drogas, o que o sr. pensa do assunto? Acha que alucinógenos tem realmente o poder de abrir a nossa consciência a outras dimensões, universos paralelos, ou tudo não passa realmente de uma desarrumaçao que causa nos nossos neurônios? Vê alguma utilização pratica das mesmas no processo criativo em si?
Sou completamente contra as drogas.

-E no cinema, o que sr. realmente gosta? No ensejo, qual seria sua “resenha-crítica” ao mencionado “Cidade de Deus”, do Fernando Meirelles, notadamente em termos de montagem e narrativa bem pós-modernista, na minha modesta opinião (temos ali a aplicação da Teoria do Caos, alguns movimentos mirabolantes de câmera a la matrix...)
Não me julgo competente para criticar o Meirelles.

-Quais sites da web o sr. visita com freqüência?
O site do Estadão, para ler as últimas notícias.

-Qual foi a experiência mais louca que o sr. já experimentou na vida?
Um acidente aeronáutico.

-Qual foi o sonho mais louco que o sr. já teve?
Ganhar na Mega-Sena.

-Tem alguma pergunta que não foi feita mas que, por o sr. ter algo realmente interessante a acrescentar, gostaria de responder?
Não, obrigado.

-E só para finalizar, Sr. Inoue, o que pensa de nosso site e que sugestões apresentaria para o aperfeiçoarmos?
Muito bom. Ando muito ocupado com esse romance histórico, mas assim que tiver um tempinho, tecerei algumas considerações sobre seu site.

-Obrigado, Sr. Inoue, por dividir conosco um pouco do seu precioso tempo.

FONTE:
alanmooresenhordocaos.hpg.ig.com.br (O Senhor do Caos)