Reportagem Gaveta do Autor
Rogério Cristofoletti

Enquanto se discutia se Romário iria mesmo chegar ao gol de número mil, ele já tinha passado pelo milésimo fazia tempo. E mais: com reconhecimento atestado e até menção no Guiness Book, o livro dos recordes. Na verdade, Ryoki Inoue não marcou mil gols. Ele escreveu mais de mil livros. Isso mesmo! A impressionante marca está na casa dos 1075 livros. Nada mal para quem começou há apenas 21 anos.

Ryoki Inoue é o escritor mais produtivo do mundo, o mais prolífico do planeta. É capaz de fazer surgir um título novo durante a madrugada, martelando as teclas impiedosamente. Esse paulista, morador ilustre de Piúma, no Espírito Santo, é um ex-cirurgião torácico com gestos macios e tipicidade dos orientais que vão envelhecendo homeopaticamente. Mesmo assim, a rapidez na criação se traduz em números invejáveis: por anos, dominou 95% do mercado de pocket books - desses vendidos em bancas -; já ultrapassou os 10 milhões de exemplares vendidos; usou pelo menos 39 pseudônimos; e escreveu de tudo: de faroeste à ficção científica, de novelas românticas a livros de guerra, de misticismo a suspense e intrigas políticas. Seus livros são assumidamente folhetins de rápido consumo, de preço baixo e de fácil acesso. Os títulos já foram produzidos à alucinante velocidade de vinte por mês, e Ryoki - quando a pressa mandava - chegou a escrever três títulos num único dia: 360 páginas em 18 horas. Isto é, 20 páginas por hora, uma a cada três minutos!

Se estivesse num outro país, Ryoki Inoue não apenas seria mais conhecido, como estaria milionário. Se ganhasse ao menos um dólar por exemplar vendido, não consumiria pelo menos doze horas diárias diante da tela de seu computador. Mas o mercado editorial costumava lhe pagar por obra, algo em torno de duzentos dólares. Claro que seus livros vendiam muito mais que isso pelo país, mas fazer o quê? Só há um caminho: escrever, escrever, escrever.

Para vender suas histórias de faroeste, o escritor não poderia assinar seus próprios livros. Já pensou um japonês narrando um duelo entre caubóis? Ou mesmo um brasileiro? Não podia. Por isso, só foi assinar o próprio nome a partir do milésimo livro: E agora, presidente?, trama que mistura perseguição política, corrupção e até um presidente que contrai aids na Casa Branca!

Com um portifólio desses, o escritor mais rápido do mundo não cultiva as vaidades dos grandes nomes da literatura, não acumula prêmios ou honrarias, mas vive da literatura que lhe escorre dos dedos. Já foi assunto de reportagens na imprensa nacional e internacional: The New York Times, Folha de S. Paulo, O Globo, Veja, Playboy... Quase sempre, as reportagens apelam para a dimensão da sua produção ou o exotismo de seus personagens e tramas. Quase ninguém se detém sobre a qualidade de seus enredos. Ryoki dá de ombros. Para quem deixou de lado um bisturi para se tornar o escritor mais prolífico do mundo, isso não é nada. E isso usando apenas os indicadores e os dedos médios...

Mais tranqüilo, Ryoki reduziu o ritmo nos últimos anos. Agora, quer produzir um romance a cada ano ou dois. Como ele dá vazão à criação represada? Tem seu site oficial e dois blogs. Só. Como Romário, esse Ryoki é mesmo um craque.

5 Perguntas
1. Qual é o tempo de um livro?
Depende. Quanto à temporalidade, um livro pode se situar nos passado, no presente ou no futuro, como todos sabem. Se você quer perguntar quanto tempo leva para fazer um livro, eu responderia também que depende. Seqüestro Fast Food escrevi em 06 horas. Já O Fruto do Ventre, que vai sair pela Record por volta de agosto deste ano, levei quase dois anos para escrever e Quinze Dias em Setembro, que ainda estou negociando com as editoras, levou quase 05 anos.

2. Escrever se assemelha a que tipo de dor?
Se escrever doesse de alguma maneira, eu já teria morrido. Não creio que escrever doa, muito pelo contrário. É um alívio, uma catarse.

3. Escrever se parece com qual prazer?
Não se parece. Escrever é um prazer. Aliás, o mesmo prazer que se sente ao ver realizada alguma coisa, ao perceber um objetivo alcançado.

4. Terminado um livro, o que leva o escritor a escrever mais outro e outro e outro?
As oportunidades de estudar e explorar novos temas. Acho que um dos fatores é a curiosidade que tão bem caracteriza o verdadeiro escritor (aquele que vive do que escreve). Some-se a isso a profusão de story lines que o dia-a-dia brasileiro fornece. E acrescente-se a necessidade de pagar as contas...

5. Para o autor, que significa o ponto final?
Mais uma vez, depende. Para o escritor extemporâneo, para o autor diletante, o ponto final é o término de uma aventura, de um desafio, o início de uma vaidade, a sensação da realização de um sonho. Para o escritor profissional, é apenas o estímulo para o início de outro livro.


FONTE: www.gavetadoautor.com