Jornal O Globo, 30 de julho de 1993

As editoras publicam mais estrangeiros que brasileiros - Caderno Prosa e Verso

Quando o escritor Ryoki Inoue terminou o original de seu primeiro livro, em 1986, achou que a fase de criação já estava terminada. Foi então que ouviu o pedido:— “Brasileiro só lê livro de americano. Inventa um nome de americano”, foi o que me disseram.

E foi assim que “Os colts de McLee”, um pocket book de bangue-bangue, chegou às bancas assinado por James Monroe. Graças a Inoue — que já tem livros publicados com seu próprio nome por algumas editoras, incluindo a Globo, que lança em breve dois novos títulos dele — os brasileiros também puderam conhecer a verve de Bill Purse, William Sweetstick, Stepham McSucker e outras crias desse descendente de japoneses.

— O diabo é que acabei usando 39 pseudônimos, pois quando um deles começava a ficar conhecido do público, o editor mandava trocar. Assim o leitor se fixava na coleção e não no autor. Se eu mudasse de editora, não arrastaria fregueses — conta ele, que entrou para o Guinness como o escritor mais produtivo do mundo e dominou, segundo suas contas, 95% do mercado de pockets .

Mas a questão que o homem de 1.072 livros levanta é mais profunda que a anedota e por isso tornou-se o tema desta última reportagem da série Mitos e Verdades do Mercado Editorial: as editoras brasileiras gostam mais do que vem de fora?

— É mais complexo que isso, e depende de que setor você está falando: o segmento infanto-juvenil é 90% brasileiro, por exemplo. Mas no geral, na hora de tomar decisões, os editores querem muita informação sobre os autores. E quando um livro já foi publicado lá fora há toneladas de informação. Podemos ver se o livro foi bem, se a crítica bate em pontos importantes, dá para ter uma idéia da performance da obra — explica Carlos Augusto Lacerda, da Nova Fronteira.

Até pouco tempo, a editora de Lacerda tinha um catálogo nacional para lá de clássico e pencas de autores estrangeiros na crista da onda.

— Claro que nem sempre o que funciona lá fora se repete aqui. Mas quando você avalia um fenômeno mundial como “O caçador de pipas”, de Khaled Hosseini (há mais de 20 semanas na lista de mais vendidos) , vê que é muito difícil que não faça sucesso. Todo editor adoraria publicar só livros de novos autores brasileiros, mas isso nunca fecharia as contas.

Num sinal de que o acesso dos autores brasileiros contemporâneos às grandes se solidifica, a Nova Fronteira anunciou há duas semanas a contratação do moderno-menino-mau Santiago Nazarian, 27 anos, surpreendendo o mercado. Era algo que não se fazia há muito na editora carioca, e parece confirmar que as grandes casas estão realmente mais abertas aos nacionais.

FONTE: O Globo, por Douglas McMillan , 25 de fevereiro de 2006

 
   
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